domingo, 25 de março de 2012

Vencendo com educação!



   Duas irmãs brincavam em seus quartos. A irmã mais nova foi até o quarto da irmã mais velha pegar um brinquedo emprestado e percebeu que a brincadeira dela  era mais divertida. Perguntou:

  --- Será que eu posso brincar?
  --- Bem que você poderia brincar, mas acontece que sempre que brincamos juntas nós brigamos, então é melhor não!
     Atrevida como sempre, a irmã mais nova retrucou:
  --- Olha aqui minha filha, isso não é uma pergunta não! É uma ordem!
  --- Como eu falei, nós já estamos brigando!
    A irmãzinha já ia entrando no quarto e mandando:
  --- Escuta, qual é o meu papel nessa brincadeira?!
     A irmã mais velha cansada de todo dia ser a mesma discussão, respondeu em poesia:
  --- É melhor você sair, para que lá fora você possa sorrir!
  --- Que papo furado é esse, irmã?
  --- Maninha, maninha, saia por aquela portinha.
  --- Você está me irritando!...
  --- Não adianta reclamar, nem atacar, o melhor a fazer é chispar!
  --- Sabe!... Você está realmente me motivando... sabe pra que?! Pra te bater!!!
  --- Se você me bater, você vai saber o que é sofrer.
  --- Ai, você é uma chata! E sem noção!
  --- Não adianta me insultar, as suas palavras não vão me afetar.
  --- Você, você... É insuportável!
  --- É melhor se apressar, você está me forçando a te pegar.
  --- Eu vou puxar o seu cabelo! É melhor calar essa boca!
  --- Lá, lá, lá, lá, vem tentar me calar!
  --- Olha que eu vou mesmo!
  --- Pode vir, mas eu garanto que eu é que vou rir.
  --- Eu... Eu... Eu vou ligar pra mamãe!
    A irmã mais nova no desespero foi direto para o telefone que fica na sala de estar, para ligar para sua mãe e nem percebeu que ela mesmo saiu do quarto de sua irmã, que a respondeu com muito orgulho:
  --- Eu não tenho medo de uma simples ligação! Eu te venci com a educação! --- E fechou a porta do seu quarto.
    Foi então que a pequenina se tocou do que tinha feito e viu que sua irmã tinha razão. Mas e agora? Ela iria ligar pra sua mãe e contar a história, onde ela é a grande errada? Ou ela iria desistir de ligar e pedir desculpas à sua irmã? Nenhum dos dois, ela simplesmente foi para o seu quarto e jurou que a brincadeira dela era a melhor, esperando que sua irmã aparecesse na porta, implorando para brincar com ela e começasse uma nova discussão onde ela, a caçula, seria a certa.
                                                      
                                                      FIM 
                                                                                   Clara S.



           
                                 




quarta-feira, 21 de março de 2012

Areia Branca

                                                               de Carlos Drummond de Andrade
                                         adaptado por Clara Seara


Lotação de Copacabana
com lugares vazios
escuta-se a voz de um senhor                                    
reclamando de um garoto
que pedia seu dinheiro
a um pedido inspirador.

O garoto continua 
conseguindo o que queria
e o velho não recua 
continua a falar
sem o rapaz incomodar.

O garoto pede a outro passageiro
e o passageiro,
com o pedido inspirador,
dá o dinheiro.
O senhor continua 
a reclamar...

O rapaz se dirige 
ao motorista
que o expulsa lotação
sem dar o dinheiro 
que o garoto queria.


O velho continua a falar 
- Se ele dissesse que
iria para outro lugar,
ninguém lhe daria o dinheiro,
mas Areia Branca é inspirador!
 
 

terça-feira, 20 de março de 2012

Vó caiu na piscina

                   de Carlos Drummond de Andrade                              adaptado por Clara Seara

Noite na casa da serra
a luz apagou
chega o garoto
que fala
- Pai, vó caiu na piscina.
O pai sem preocupação
responde que não há problema.

O garoto insiste
o pai perde a paciência
e manda o pequenino 
dar licença.
O garoto se chatea
Você não acredita em mim!
Afirma.

O pai, sem compreender
fala que acredita
e que ele só não cai piscina,
porque seu resfriado irá piorar
e ele não queria se prejudicar.

O menino vai embora
logo depois
a mãe chega
falando para o pai do garoto
ir ajudar sua mãe que tropeçou
escorregou
e caiu na piscina!

Ele foi ajudar desesperado
e pediu desculpas a mãe
dizendo que o menino falou errado
nada disso,
ela responde,
você é que teve 
um excesso de burrice! 


Pescadores


sábado, 17 de março de 2012

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

         Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira (MG) no dia 31 de outubro de 1902. Viveu com sua família na Fazenda do Pontal (Itabira). Fez os estudos secundários em Belo Horizonte em um colégio interno, onde permaneceu até que um período de doença levou-o novamente a Itabira. Em 1918 muda-se para Nova Friburgo (RJ) e passa a estudar em outro internato, mas dessa vez permanece nele por pouco tempo, pois é expulso do colégio acusado de "insubordinação mental", após um desentendimento com o professor de Português, fato que considerou uma injustiça durante toda a vida. Assim volta a Belo Horizonte.  
                                             

                            
                   CONFIDÊNCIA  DO  ITABIRANO     

            Alguns anos vivi em Itabira.
            Principalmente nasci em Itabira.
            Por isso sou triste, orgulhoso: de  ferro.
            Noventa por cento de ferro nas calçadas.
            Oitenta por cento de ferro nas almas.
            E esse alheamento do que na vida é 
            porosidade e comunicação.

            A vontade de amar, que não paralisa o
            trabalho, vem de Itabira, de suas noites
            brancas, sem mulheres e sem horizontes.
            E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, 
            é doce herança itabirana.
                   
             De Itabira trouxe prendas que ora te 
             ofereço:
             este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
             este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
             este orgulho, essa cabeça baixa...

              Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
              Hoje sou funcionário público.
              Itabira é apenas uma fotografia na parede.
              Mas como dói!

                                                                                   Carlos Drummond de Andrade


          Depois de ser expulso do internato em Nova Friburgo, em 1918, seu irmão Altivo publica no único exemplar do jornalzinho Maio, o primeiro poema em prosa de Carlos Drummond: "ONDA". 
          Em 1920 muda-se com a família para Belo Horizonte. No ano seguinte, começa a publicar seus primeiros trabalhos no jornal Diário de Minas.
        Em 1922 ganha 50 mil réis como prêmio no concurso Novela Mineira, com o conto "Joaquim no telhado". Nessa época ele não pensava em viver da literatura:        "Não tive um projeto de vida literária. As coisas foram acontecendo ao sabor da inspiração e do acaso. Não houve nenhuma programação".
         Em 1923, buscando uma profissão, matriculou-se na Escola de Odontologia e Farmácia - desde criança ficava maravilhado com os vidros cheios de água colorida que enfeitavam as farmácias na época de sua infância. Concluiu o estudo, mas não se adaptou à profissão e não se interessava pela profissão de fazendeiro do pai e do avô. Então em 1925 funda junto com Emílio Moura e Gregoriano Canedo, "A Revista", órgão modernista em que foram publicados somente três números. No mesmo ano casou-se com a senhorita Dolores Dutra de Morais.



          PRAÇA DA ESTAÇÃO DE BELO HORIZONTE

Duas vezes a conheci: antes e depois das rosas.
Era a mesma praça, com a mesma dignidade,
O mesmo recado para os forasteiros: esta cidade é uma
promessa de conhecimento, talvez de amor.
A segunda Estação, inaugurada por Epitácio,
O monumento de Starace, encomendado por Antônio Carlos
São feios? São belos?
São linhas de um rosto, marcas da vida.
A praça da entrada de Belo Horizonte,
Mesmo esquecida, mesmo abandonada pelos poderes públicos,
Conta pra gente uma história pioneira.
De homens antigos criando realidades novas.
É uma praça - forma de permanência no tempo.
E merece respeito.
Agora querem levar para lá o metrô de superfície.
Querem mascarar a memória urbana, alma da cidade
Num de seus pontos sensíveis e visíveis.
Esvoaça crocitante sobre a praça da Estação
O Metrobel decibel a granel sem quartel
Planejadores oficiais insistem em fazer de Belo Horizonte
Linda, linda, linda de embalar saudade
Mais uma triste anticidade.
                                                                                   Carlos Drummond de Andrade 



         Em 1926 ensina Geografia e Português no Ginásio Sul-Americano de Itabira. Volta para Belo Horizonte para trabalhar como redator-chefe do Diário de Minas. Em 22 de março de 1927 nasce seu filho Carlos Flávio, que teve apenas meia hora de vida. No dia 4 de março do ano seguinte, nasce sua filha Maria Julieta. No mesmo ano torna-se auxiliar de redação da Revista do Ensino da Secretaria de Educação.
         Em 1934 muda-se para o Rio de Janeiro, onde trabalha como chefe de gabinete, novo Ministro da Educação e Saúde Pública. Em 1940 publica seu livro "Sentimento do Mundo" que teve 150 exemplares.
        Foi no Rio de Janeiro que Carlos Drummond de Andrade ficou mais famoso por suas poesias e crônicas.
      Com mais de 80 anos e uma vida cheia de histórias, Carlos Drummond mantinha o gosto pelas coisas mais comuns, como andar a pé, comer chocolate, folhear livros ilustrados, brincar com crianças pequenas e desenhar.
        Em 1987 foi homenageado pela escola de samba Estação Primeira de Mangueira com o samba-enredo "No reino das palavras"  que venceu este carnaval.  No mesmo ano publica seu último poema: " Elegia a um tucano morto". No dia 5 de agosto de 1987, depois de 2 meses de internação, sua filha falece, vítima de um câncer, fato que deixa Drummond muito triste. Doze dias depois, Carlos Drummond de Andrade falece de problemas cardíacos e é enterrado no mesmo túmulo que a filha. O grande poeta deixa obras inéditas como, "O avesso das coisas" (aforismos), "Moça deitada na grama", "O amor natural" (poemas eróticos), "Viola de bolso III" (Poesia errante), hoje publicados pela Record; "Arte em exposição" (versos sobre obras de arte), "Farewell", além de crônicas, dedicatórias em verso coletadas pelo autor, correspondência e um texto para um espetáculo musical, ainda sem título.